Com a crescente pressão das partes interessadas por práticas de menor pegada de carbono, todas as empresas estão em busca de tecnologias economicamente viáveis que possam preencher a lacuna de emissão atual para um futuro mais verde. Essa transição é mais difícil para empresas com processos industriais tradicionais, que costumam lidar com alta competitividade em um mercado global, como a siderurgia. Este post mostra quantitativamente os impactos ambientais de uma tecnologia alternativa na rota clássica do Alto-Forno - Convertedor LD (AF-LD).
Por muitos anos, a indústria investiu em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias que pudessem atender às metas ESG (ambientais, sociais e de governança corporativa) e, ao mesmo tempo, garantir a competitividade no mercado. Está bem documentado que uma usina siderúrgica integrada baseada na rota AF-LD tem níveis de emissão de cerca de 1,7 a 1,9 toneladas de CO2 por tonelada de placa produzida. Por natureza, os processos de redução (o alto-forno em particular) são responsáveis pela maioria das emissões, gerando CO2 no próprio processo ou produzindo um gás energético que irá gerar CO2 em outros processos onde será queimado. Considerando essa lógica, veja a seguir o detalhamento das emissões de CO2 por processo.
É importante entender como o processo de alto-forno gera CO2 para combater as causas das emissões. As reações de redução dos óxidos de ferro por CO e H2O produzem ferro metálico, CO2 e H2, respectivamente, conforme descrito nas equações abaixo.
Fe2O3+3H2→2Fe +3H2O (g)
Fe2O3 +3CO→2Fe +3CO2 (g)
Ambas as reações ocorrem simultaneamente no processo. Porém, ao carregar o AF com coque e carvão, a reação de redução baseada no CO ocorre em maior proporção, devido à composição dos combustíveis sólidos, gerando mais CO2. A alternativa para reduzir a geração seria favorecer a redução do ferro pelo hidrogênio, que geraria água.
Isso pode ser feito injetando gás hidrogênio (H2) no alto-forno. Testes empíricos mostraram que cada quilo de H2 consumido substituiu cerca de 3,9 quilos de coque. Esse conceito de substituição é conhecido na indústria como equivalência de coque e todos os combustíveis de alto forno, como carvão, carvão vegetal e gás natural, têm seus próprios valores. As imagens abaixo mostram o impacto dessa tecnologia no consumo de combustível* e consequentemente na emissão de CO2. A otimização sugere que 10 kg de H2 por tonelada de gusa reduz a emissão de CO2 em 0,123 t de CO2 por tonelada de placa.
Além disso, o consumo de hidrogênio tem outros impactos operacionais, que não podem ser negligenciados. Os principais impactos estão na redução dos rendimentos de CO e H2, na temperatura adiabática de chama (TAC) e na produtividade do alto-forno. O aumento na injeção de H2 aumenta o rendimento de redução de CO (o que significa que o carbono é melhor aproveitado), bem como a produtividade do alto-forno. No entanto, reduz o rendimento de redução de H2 (a proporção de reação envolvendo H2 realmente compensa isso), a TAC e a permeabilidade (devido à redução do consumo de coque). Os dois últimos são fatores limitantes da injeção de H2. Verifique os impactos numéricos:
Por fim, é importante revisar seu impacto econômico. Embora tenha muitos benefícios operacionais e ambientais, o gás H2 pode ser muito caro para adquirir e seu consumo específico pode variar caso a caso. A figura abaixo mostra como o consumo específico de H2 muda de acordo com seu preço em duas condições diferentes: com ou sem penalidades de emissão. É claro que a viabilidade do consumo de hidrogênio está intimamente relacionada às penalidades e aos preços pagos, mas o gráfico mostra que os trade-offs ocorrem em um comportamento gradativo que não é linear e, principalmente, não é trivial.
Com um preço de 22.700 eur/kg de H2, nós observamos o aumento de 11,75 eur/t de placa no custo de produção ao injetar 10 kg/t de gusa.
A injeção de H2 é um ótimo exemplo de todos os aspectos que precisam ser considerados antes de mudar de tecnologia. Além do efeito ambiental, toda alternativa de redução de emissões deve estimar o impacto econômico e operacional colateral em toda a cadeia produtiva.
* Nota: Todos os dados gerados usando o modelo de usina siderúrgica integrada da Cassotis de uma usina padrão baseada na rota AF-LD
Autor: Guilherme Martino - Consultor Sênior na Cassotis Consulting
Coautor: Emmanuel Marchal - Managing Partner na Cassotis Consulting